“Uau!!! A forma como fazemos o toque nas sessões de Rolfing® IE ou de Liberação Miofascial pode acordar e/ou intensificar mecanismos naturais do organismo em direção à saúde e maior organização do corpo?!?!?!” E foi assim, num misto de surpresa, descoberta, encantamento e vontade de “quero aprender melhor como fazer isso!” que fui mergulhando cada vez mais no uso da tensegridade* do corpo como base para meu trabalho.
O que acontece de diferente quando o trabalho é realizado com essa qualidade de toque? Antes de qualquer outro comentário, é importante lembrar que cada organismo é um organismo, com respostas singulares e próprias e, portanto, os exemplos a seguir são uma amostra de possibilidades.
Quando passei por essa experiência como cliente, com essa qualidade de toque, comecei a perceber as sensações dentro do meu corpo de forma muito mais clara e em regiões mais profundas, o que levou a um alinhamento e organização mais profundos também. A sensação de “habitar meu corpo” – ficar mais centrada, mais inteira, respeitando mais meu ritmo natural e aquietando um pouco mais a mente – intensificou-se. Fui me tornando consciente de lugares do meu corpo em que eu me “segurava” por meio de tensões que exigiam esforço e me impediam de estar em um estado maior de descanso. Com o tempo, apareceu em mim a capacidade de dar abertura para o surgimento de movimentos espontâneos, como se o meu corpo se espreguiçasse sozinho de formas muito mais variadas, alcançando regiões muito mais profundas do que aquelas que um movimento voluntário ou um espreguiçamento simples é capaz de alcançar. E essas experiências no corpo reverberaram também no âmbito emocional, tornando-me mais aberta às pessoas e situações, mais segura, mais disponível e com desejo de experimentar o novo, com um prazer muito maior no viver e uma sensação muito mais intensa de plenitude.
E agora, como Rolfista™, o que tenho percebido na clínica com meus clientes quando utilizo essa qualidade de toque? O corpo dos próprios clientes participa muito mais ativamente dos ajustes e mudanças, em uma direção que o corpo reconhece como “boa”, provocando comentários como: “é isso que o meu corpo precisava”, “parece que está colocando no lugar”, “meu corpo gosta disso”, “como é bom me sentir de volta no meu corpo”. Pequenos movimentos involuntários - como tremores, espasmos, contrações e extensões - podem surgir como parte dos ajustes que o organismo sente como necessários. Pode-se entrar em um estado de maior sonolência, o peristaltismo pode se abrir, o reflexo de espreguiçamento e bocejo tornam-se mais frequentes... Enfim, pode ser manifestada uma variedade de respostas autonômicas do corpo, que fazem parte dos seus mecanismos naturais para o restabelecimento de um maior equilíbrio e bem-estar. Nesse processo, é frequente os clientes aumentarem sua conexão com seu corpo e sua capacidade de ouvir suas necessidades. E assim, é formado e fortalecido um ciclo de autocuidado, fundamental para vivermos em um estado de Saúde.
* No estudo da estrutura e do movimento humanos, a tensegridade é uma qualidade que tem recebido especial destaque nos últimos anos, em particular pelos autores, escolas e métodos que estudam e trabalham com a fáscia, como o Rolfing® Integração Estrutural. “Tensegridade foi um termo inventado a partir da expressão ‘tension integrity’, ou ‘integridade de tensão’, do designer R. B Fuller (trabalhando a partir de estruturas originais desenvolvidas pelo artista Kenneth Snelson). O termo se refere a estruturas que mantêm sua integridade devido, primariamente, a um equilíbrio de forças contínuas de tensão através da estrutura, em oposição a um apoio de forças compressivas contínuas (Thomas W. Myers, “Trilhos anatômicos). No corpo humano, portanto, a tensegridade se forma pela combinação da compressão dos ossos com a tensão do tecido conjuntivo mole (sistema miofascial) que envolve todo o sistema. No Brasil, esta qualidade particular de toque e seus efeitos tem sido estudada, aprofundada e disseminada pelo Dr. Luiz Fernando Bertolucci (médico fisiatra e biólogo, profissional avançado de Rolfing e professor de anatomia e de liberação miofascial da Associação Brasileira de Rolfing® e do Rolf Institute for Structural Integration) e sua equipe, sob o nome de “Toque de Tensegridade”.
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